terça-feira, 19 de outubro de 2010

Fusões

Uns dias atrás eu me "peguei"em uma espécie de divagação exaustiva. Do tipo que a maioria das dançarinas já desistiu de "blablablar" a respeito (Graças a Deus) e com amor abraçou a união das tribos.
Afinal, seria o Tribal mais rígido que a Dança do Ventre tradicional? Seria o Fusion uma re-evolução do ATS - acho de mau gosto sugerir que uma técnica é uma evolução de outra no sentido de superioridade, que fique claro. Portanto não considero ATS, ITS nem Fusion nem Dança do Ventre evolução de coisa nenhuma. Acredito que são variações deliciosas, cada uma no seu tempero, adaptadas ao gosto do freguês.
Meu primeiro contato com as correntes de Tribal Style foi aqui no Brasil com a troupe de Shaíde Halim. Achei muito interessante, vibrante e de grande expressividade. Mas naquele momento, em 2005 eu me concentrava em resolver o que fazer da minha vida.
Em 2006 eu também babei na produção das magníficas Bellydance Superstars no Folies Bergère de Paris. E como muitas bellydancers anônimas do mundinho, também me perguntei "o quê" eram aquelas "esquisitonas" do Indigo . . . e o que pensavam que estavam fazendo com a dança do ventre - dançando daquele jeito, com as pernas tão flexionadas. O tempo revela quem tinha razão.E que em dança ninguém precisa ter razão.
Só em 2007 eu comecei a estudar de fato. Depois de uma aula com a Shaíde - que foi essencial para entender conceitos, postura e mais uma porção de fundamentos - eu me interessei em distinguir os demais estilos.
Através de um vídeo do Fat Chance Bellydance, trazido da Bahia - graças à querida Bella Saffe - eu saquei umas coisas.
Há uma rigidez das normas de estilo e postura, responsável pela própria beleza imponente do ATS, que na minha opinião a Dança do Ventre perdeu (abriu mão?) há tempos.
Não dá pra negar que me incomoda bastante trabalhar com algo que só é reconhecido se estiver dentro do padrão. E quando você trabalha com ITS, improvisação - precisa ser assim. E muito da riqueza do momento acaba sendo negligenciado, sacrificado em prol de uma riqueza maior: aquela da coletividade. As improvisações com o grupo ganham força e impacto cênico junto ao público. Numa improvisação lenta, a bailarina sozinha subindo e descendo o braço é uma coisa. Quando faz isso junto a um grupo de mulheres em formação - é de arrepiar até os cílios . . .
Me faz lembrar minhas primeiras aulas com a Lulu, quando todas nós a seguíamos por um solo de acordeon, em roda, intimamente olhando umas para as mãos das outras. Dançávamos juntas, como se as mãos de Lulu fossem as nossas mãos.
Na sinergia daquele momento, não sabemos onde começamos ou terminamos.
O taksim mais lindo do mundo, como um beijo.
E onde há regras claras há rupturas - e aí tudo fica mais gostoso. Existindo o ATS, pode haver o Fusion e o Neo-fusion, com sua excentricidade de marca, comicidade e rebeldia. Sim, afinal queremos ter algo para contestar.
Se tudo estiver muito plano ou permitido, como farei o contraste na minha apresentação? Muda figurino? Mini-saia, desce de guindaste, balão, entra a cavalo.
Nada disso importa, desde que o artista se entregue ao processo de interpretar.



4 comentários:

  1. Chu, vc disse tudo! O tribal é mais "livre" teoricamente, mas cheio de suas regras próprias.
    Eu curto o ATS, mas tenho horror ao Tribal Fusion.
    É que gosto de coisas que remetam às origens... deve ser por isso.
    Enfim, me adaptei bem aos pode-não-pode da dança do ventre, mas não ao pode-não-pode do tribal.
    Me adaptei tão bem na dança do ventre que já nem quero mais respeitá-lo tanto assim...

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  2. adorei o 'onde há regras, há rupturas.' beijo na alma. :)

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  3. Eu fugi da dv para o tribal justamente para fugir das regras. Aí o tribal ganhou tantas regras que passou a ser igualmente chato. E por isso eu fugi para o meu tribal... rsrsrs Agora eu fugi do Oriente em geral! Mas acredito que há vida além das regras, basta que vc esteja disposta a fugir delas, a encarar os olhares tortos - mas aí sim vai brindar seu público com uma dança deliciosa - para quem dança e para quem assiste!

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  4. Ótimo post, Samya! Eu me adaptei ao tribal não para fugir de regras, mas para fugir da purpurina em excesso que habita nas roupas e corações das bailarinas, que não pensam nada além da lantejoula. Através do tribal encontramos artistas e mulheres que se interessam em algo mais, que querem um movimento melhor, que não se contentam o suficiente para dizer que já estão prontas e não precisam aprender mais nada com mais ninguém. Não que a dança do ventre não ofereça este caminho, mas ela não exige isso. Esse fator depende muito de quem está ensinando. Adoro dança clássica e folclórica, a dv sempre será minha paixão, mas agradeço pelo tribal pela limpeza técnica que realizou na dv. O tribal exige disciplina em todos os seus estilos e expressões, sim, pode ser chato (ainda bem que sou chata também, hehehe!).Acho que estava na hora de uma dança que também usa quadril aparecer e mostrar que espontaneidade não é o mesmo que desleixo e presunção; que qualidade técnica é inerente à qualquer dança, além da expressão, e como bailarinas temos que ser imparciais nesse sentido. Na minha opinião, uma dança complementa outra.

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